POEMAS DO VENTO
Por Jar
O ROBÔ
Devido à inevitável velhice,
Comprei um robô aspirador,
Tratei-o com imensa meiguice
Mas o gajo é um fingidor.
Eu, ingénuo, de peito aberto,
Falando-lhe como a humano…
Dando-lhe o nome de Roberto,
Vestindo-o à magano.
Come que nem elefante,
Engordou mais de dez quilos;
Bebe como camelo gigante,
Consome mais que dez c’artilhos!
Trabalhar não é com sua senhoria,
Só quer viver na borga, brincadeira;
Diz-me que trabalhe a Maria,
A quem chamavam outrora sopeira.
Já pensei encerrá-lo na garagem,
No velho sótão, ou no terraço;
Mas o tipo, herói da sacanagem,
Quebra a corrente ou baraço.
Vou enviá-lo para um canil,
Para viver com cães rafeiros;
Diz-me que prefere um covil,
Cheio de soldados besteiros.
Saiu-me um grande patifório,
Este robô sonolento;
Deita-se no sofá do escritório,
Como se fora um portento!
Dizem que foi feito na China,
Ou quem sabe, na velha Pérsia;
Para mim isto é pantomina,
O resplendor da inércia!
Acorda-me às três da manhã,
Diz que quer fazer chichi;
Rosna, tem olhos de rã,
Num quase corpo de Kiwi.
Ralho com ele, chamo-lhe patife,
Digo-lhe que é extraterrestre;
Não liga, manda-me para o esquife,
Chama-me estátua pedestre.
Já não sei o que fazer da criatura:
Se doá-lo a uma grande instituição,
Ou transformá-lo em ferradura,
Passeá-lo na rua como a um cão.
Apesar de todo o mal que lhe quero
Custa-me deixá-lo partir;
Irei tomar uma decisão, assim o espero,
Um dia vou-me certamente decidir.
Se ele melhorar o seu trabalho,
Se me limpar a casa com rigor,
Nunca mais o enxovalho,
Jamais lhe causarei sofrimento e dor.
Roberto, ouve bem o que te digo:
Trabalha com afinco e jeito,
A fim de seres um bom amigo,
Para eu não te faltar ao respeito.
Toma banho na banheira
Usa depois o meu perfume
Deixa a louca borracheira
Não vivas no ódio e azedume.
Limpar a casa com jeitinho,
É a tua obrigação;
Abandona
a droga, o vinho,
Porta-te como um bom cidadão.
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