POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
MELGAÇO
Melgaço, praça-forte alevantada
para teu nobre reino defenderes.
Por el-rei João primeiro tomada,
por teus filhos eternamente amada,
tua seiva secularmente forjada
nos cheios peitos de tantos quereres.
De Portugal, Melgaço, és o primeiro
concelho da província do Minho;
com a Espanha confinas (és
fronteiro),
da lusitana terra o verdadeiro
povo mui são, erguido, justiceiro,
és terra do pão e do verde vinho.
Teus lindos cachos de uvas, doirados,
tuas belas frutas, tão saborosas,
lendas de mil tesouros, encantados,
(diz-se, por gente moura enterrados),
quão pedaços de beleza ignorados,
águas minerais já tão famosas!
Vales e serras de cor verdejantes
na primavera e no quente verão!
Com seus formosos ribeiros, cantantes…
Descendo – mas, parando por instantes,
pra admirar as belezas deslumbrantes
que existem com vida em teu coração.
Montanhas, lá no alto, brancas de neve,
no outono… no longo e frio inverno!
Um clarão de esperança concebe
tua alma pura, que só a deuses concede
a sublime entrega. E assim precede
o nascer da vida, do sonho eterno.
Quando de ti, Melgaço, me afastei,
trouxe comigo a estreme saudade.
Lágrimas amargas, tristes, chorei.
Ainda choro, e sempre chorarei;
humildes versos te dedicarei,
não importa o lugar onde, ou a idade.
Quando teus filhos partem, também choras.
Gritas de desespero… adoeces!
Mas ouve: tu, em seu coração moras.
Não te lamentes, como as velhas noras,
não olhes no relógio da torre as horas,
porque assim, Melgaço, tu envelheces!
Tens, pra recordar, o exemplo de Inês
- a nossa Inês Negra, virago amada –
a que restituiu ao povo, outra vez
(no florido Abril, em Março talvez),
teu chão, genuinamente português,
o tirou das garras da Arrenegada.
Ergue-te! E caminha altivamente
pela senda do progresso e da virtude;
mostra ao mundo, mostra a toda a gente,
dá – a boa nova – urgentemente…
Diz-lhes: - «eu sou,
do velho continente,
a força indómita da juventude…»
Não sou mais aquela velha esquecida,
carcomida pelo tempo, pela idade;
vestes novas, alegre, e tenra vida
me deram aqueles, cuja guarida
sou. E eu, para sempre agradecida,
dou-lhes amor, esperança,
eternidade!»
(1.º prémio dos III Jogos Florais
Melgaço 1991)
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