// continuação...
11
Chovam
coriscos, neves glaciares,
Venha
Aníbal com seus elefantes,
Surjam
habitantes de outros mares;
Nós
opor-lhe-emos nossos infantes.
Venham
seres estranhos de outros ares,
Com
corpos de anões, ou de gigantes,
Mas
não venham tais seres fazer guerra,
Antes
tragam paz a esta linda Terra.
12
Fujamos,
lusos, da vil situação
De
criaturas sem eira nem beira;
Digamos
não à vã resignação
Que
nos tem seguido a vida inteira.
Sejamos
um povo forte, a nação,
Que
assombre o mundo, a gente alheia.
Purifiquemo-nos
– sal da virtude –
Façamos
da honra única atitude.
13
Estudemos
a História Nacional,
Aprendamos
a reconhecermo-nos;
Sem
esquecer a outra, Universal.
Da
nossa, tão bela, orgulhemo-nos;
Abandone-se
a estrada do mal,
Por
esse caminho nós perdemo-nos.
Humildes,
sem do orgulho abdicar;
Grandiosos,
sem grandezas de cegar.
14
Amemos
a língua portuguesa,
Orgulho
de nossos antepassados;
Mais
poderosa do que a inglesa,
Própria
para cantar nossos fados…
Rivaliza
com a fala francesa,
Porque
brotou nos mesmos verdes prados.
Qualquer
língua, mesmo a alemã,
À
beira da nossa é quase irmã.
15
Que
achais que o mundo de nós espera?
Apenas
o que nós esperamos do mundo:
Em
paz, e em progresso, sem fome fera
Ir
caminhando – longo passo fundo;
Criando
a Fase de Ouro, a nossa Era,
Deixando
pra trás tudo que é imundo;
Negando
a fabulosa identidade,
Pois
o tempo já é, e também a idade.
16
E
eu, sem oráculo ou profeta ser,
Prevejo
que o dia luso vai chegar;
As
trevas vão na luz esmorecer,
As
ciências da vida despontar;
Vampiros
na noite vão perecer,
Os
déspotas atirar-se-ão ao mar.
As
iras e paixões serão banidas
Pra
que os homens tenham melhores vidas.
17
Não
se apague em nós a má memória
Dos
reis guerreiros, pequenos Cipiões,
Uns
buscando a terra e outros glória,
Afonsos,
Sanchos, Pedros, Sebastiões.
Penetrando
na senda assaz ilusória
De
um mundo vazio, já sem sensações;
Dando
à terra as costas, o mar olhando,
Miríade
de frágeis naus o mar sulcando.
18
Não
se esqueçam os Filipes espanhóis,
Que
esta terra livre tornaram sua.
Vã
presença, ruins recordações,
Tempo
onde a dor pátria flutua;
Sonhos
de liberdade, aspirações,
Horas
em que o medroso não recua.
Fogo
que arde no nobre templo erguido
Em
honra de um país nunca esquecido.
19
É
Camões que morre, é Portugal,
Sonho
de alta glória que se esvai;
E
do bem que havia surge o mal,
Das
feridas abertas o sangue sai.
A língua mãe cobre-se com cal,
E
a vil desonra sobre ela cai;
Das
entranhas do ser o medo nasce,
Pede-se
a Zeus que o rebanho pasce.
20
É
a alma portuguesa que perece,
O
esplendor das descobertas se apaga;
O
mundo todo de nós já se esquece,
Não
há mais para nós a nobre saga;
Os
passados feitos já não merece,
A
nobre prosa que a ação sagra.
E
pra que dos vis não reze a História,
Farei
dos traidores a suja escória.
// continua...
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