POEMAS DO VENTO 

Por Jar

 



TRAQUITANA

 

Lá vou com a traquitana

pelas aldeias afora.

Vou cantando e vou vendendo,

vou petiscando e bebendo,

vou vendendo e fiando.

No regresso – ó espanto!

Fui vestido e vim de tanga!

Isto é uma vida fandanga…

Pra ser livre, não ter canga,

vende-se tudo ao desbarato;

com certa pompa e aparato,

ao mundo sujo, insensato…

Aos bichos desse outro mato,

de uma selva inda pequena,

toureando noutra arena,

touros mansos e ovelhas;

vacas magras e carneiros,

 bebendo copos inteiros,

vinho tinto e jeropiga;

apanhando a espiga,

a azeitona pequenina,

o espinafre e a nabiça,

e ao domingo… ir à missa!

Chiça!




A BARRA DE OIRO COM ASAS

 

Havia um certo sovina

que tinha uma barra d’oiro;

para ele era divina…

era todo o seu tesoiro!

 

Guardava-a tão bem guardada,

como a um filho a protegia,

 que nem cabeça coroada

no tempo da monarquia!

 

Mas certo dia inglório

a barra desapareceu!

Quem seria o patifório

que vilmente procedeu?

 

Toda a família envolvida

neste caso tão bicudo;

e a barra desaparecida

era a culpada de tudo!

 

«Quem roubou o meu tesouro

perguntava colérico o sovina.

«Se calhar foi o Zé-Touro»

insinuava a Ti Albertina.

 

O Zé-Touro, patifório,

era o que tudo roubava;

com suas mãos de finório

a “terra” alheia lavrava!

 

É chamado à Judiciária

mas tudo nega, o malvado.

«Não é esta a minha área,

eu jogo noutro relvado

 

Não se convence, o agente,

e fortes murros lhe dá.

«Diz-me cá, ó minha gente,

onde é que o ouro está

 

«Sr. Agente, eu lhe garanto

que a barra d’oiro não bifei;

juro pelo António santo…

e quem a bifou não sei

 

E por mais murros que apanhe

não fala, o hábil bandido;

(o sovina que se amanhe),

pensa o agente, vencido.

 

O processo se arquivou,

junto a outros poeirentos;

«quem foi que o ouro roubou

pergunta-se aos quatro ventos.

 

«Tinha asas, essa barra,

e voou prò outro mundo?!»

A pergunta sempre esbarra

com o silêncio profundo.      

 

Mas o que é certo, irmão,

é que o sovina, coitado,

sofreu tal desilusão

que ficou meio chalado!

 

Ainda hoje nós o vemos

pelas ruas da cidade:

«pela alma de quem lá temos

dêem-me o oiro, por caridade

 

E agora, só por chalaça,

vou ao fundo da questão:

«o ouro só traz desgraça»…

passai-o prà minha mão!


















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