Prólogo

 

 

1

 

Cantarei de novo os portugueses,

Ilustrarei seus atos grandiosos,

Sem os defeitos que quantas vezes

Surgem aos olhos de outrem odiosos;

Não tomarei como exemplo ingleses,

Nem tão pouco outra raça d’orgulhosos.

Exaltarei o brio da nossa gente,

Seja forte, alegre ou dolente.

 

2

 

Cantarei escritores, cientistas,

Médicos, enfermeiros, enfermeiras,

Os camponeses, os retratistas,

Os operários e lavradeiras…

Não cantarei os malvados farsistas,

Nem as odiosas alcoviteiras.

Cantarei o povo são, verdadeiro,

Excluindo o mau, o desordeiro.


3

 

Os empregados de mesa, bancários,

Todos que trabalham honestamente;

Cozinheiros, os bons funcionários,

Povos das ilhas e do continente…

Não cantarei os reles mercenários,

Os parasitas sem alma nem mente.

Cantarei os músicos, os pintores,

Artistas de cinema, varredores.

 

4

 

Cantarei os bombeiros voluntários,

Também os que são profissionais;

Andorinhões, andorinhas, canários,

Águias, crocodilos e pardais…

Não cantarei os temíveis falsários,

Hóspedes de prisões e tribunais.

Cantarei o verão, a natureza,

Omitirei a dor e a tristeza.

 

5

 

Marchemos, solidários, com o mundo,

Ergamos bem alto o nosso estandarte,

Digamos de onde o luso é oriundo,

De que foi feito, e com que arte;

Sem acordarmos Jeová furibundo,

O Destino, ou o temível Marte.

Que a glória está em ser, nada mais,

Tudo o resto são imagens virtuais.


6

 

Não copiemos exemplos degradados,

Nem quaisquer outros, mesmo em embrião;

Lancemos as barcas nos mares salgados,

Mostremos a todos que somos uma nação.

Fabriquemos de aço puro nossos arados,

Cultivemos com amor nosso chão;

Estendamos os braços às negras nações,

Pra que esqueçam tristes recordações.

 

7

 

Aprendamos as lições dos ancestrais,

Mas colhamos delas apenas o melhor;

Releguemos confissões, tudo o mais,

Que tolhem o espírito e seu ardor.

Plantemos, como el-rei, grandes pinhais,

Para que tenhamos um novo odor;

Não coremos por sermos pequenino,

A grandeza está em tudo que é digno.

 

8

 

Não nos sintamos nação de terceira,

Muito inferiores às outras gentes,

Somos, como os demais, de primeira,

E por isso devemos estar contentes;

Não temos, ainda bem, alma guerreira,

E às guerras cruéis somos tementes.

Amamos a paz, como supremo bem,

E não desejamos mal a ninguém.  


9

 

Acordemos em nós toda a energia,

Há mil anos em paióis acumulada;

Enchamos os pulmões de maresia,

Fora com a preguiça entranhada.

Que a noite dê lugar a novo dia,

Levando as trevas na vil enxurrada.

Acorda português! Acorda e diz

Se neste mundo alguém é mais feliz.

 

10

 

Se queremos de novo ganhar fama,

Recuperar os louros perdidos,

Abandonemos a macia cama,

Os mil alimentos desmerecidos.

Pois a barriga e o prazer nos trama,

E todos os eventos mui garridos.

Voltemos rápido à faina dura,

Para que haja outra vez fartura.


// continua...

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