POEMAS DO VENTO
Por Jar
// continuação...
*
GATO VADIO
Ó gato que mias
de frio e de fome
vem prà minha beira
toma lá e come
Já te vou servir
um lauto jantar
um rato gordinho
que vais adorar
Ó gato que mias
vem prà minha beira
livrar-te do frio
aqui na lareira
Vou dar-te leitinho
da vaca leiteira
vem, gato lindinho
para a minha beira
Foge já do frio
vem matar a fome
vem prà minha beira
toma lá e come
Depois do manjar
podes dormecer
nesta linda cama
de pelo a valer
E podes sonhar
os sonhos bonitos
os da tua infância
atrás dos ratitos.
QUEM ME DERA
Quem me dera sapateiro,
meias-solas eu botar;
quem me dera o dia inteiro
água da sola cheirar.
Escutar telefonia,
sentado no meu banquinho;
quem me dera, todo o dia,
bater sola no
seixinho.
Falar com os meus clientes,
ouvir as suas misérias;
atender os impacientes,
sem descanso, sem ter férias.
Curtir com as raparigas,
beijos mil, às escondidas;
brancas e loiras espigas,
ao sol na eira estendidas.
Sujar as mãos nessas botas,
que do “monte” me
chegavam;
alinhadas, como tropas,
nos negros pregos ficavam.
Ai quem me dera, me dera,
voltar a ser novo, novo;
voltar a ser o que era,
ser do povo, só do
povo.
*
UM POETA É …
Um poeta é um criador de reinos
imaginários, sem originalidade.
O poema é a sua casa.
Através das janelas do poema
ele avista o mundo – não o seu!
E o que vê não lhe agrada.
A sua matéria-prima são os
impulsos primários e prima
pela ausência da vontade imposta.
O reino que cria, verdadeira terra
de ninguém, embora povoada,
serve-lhe de abrigo e de desculpa.
O poeta é sempre um ser culpado!
Não o reconhecer – é doloroso.
E bate com as palavras contra as
paredes graníticas do silêncio
absoluto – esmaga-as sem piedade!
Depois chora, ri e pragueja – pieguice!
Não, o mundo não é bem o seu lugar:
o poema… sim.
O poeta tem a noção da sua timidez,
da sua falta de jeito para o quotidiano.
Ele é um fugitivo, nunca um perseguido!
Bichinho gato, que comes tu?
ResponderEliminar- Sopinhas de leite.
- Guardaste-me delas?
- Guardei, guardei.
- Onde as puseste?
- Atrás da arca.
- Com que as tapaste?
- Com o rabo da gata.
Sape, sape, sape gato
Sape, sape, sape gata.