POEMAS DO VENTO

Por Jar


desenho de Manuel Igrejas


// continuação...


*

GATO VADIO

 

Ó gato que mias

de frio e de fome

vem prà minha beira

toma lá e come

 

Já te vou servir

um lauto jantar

um rato gordinho

que vais adorar

 

Ó gato que mias

vem prà minha beira

livrar-te do frio

aqui na lareira

 

Vou dar-te leitinho

da vaca leiteira

vem, gato lindinho

para a minha beira

 

Foge já do frio

vem matar a fome

vem prà minha beira

toma lá e come

 

Depois do manjar

podes dormecer

nesta linda cama

de pelo a valer

 

E podes sonhar

os sonhos bonitos

os da tua infância

atrás dos ratitos.


QUEM ME DERA

 

Quem me dera sapateiro,

meias-solas eu botar;

quem me dera o dia inteiro

água da sola cheirar.

 

Escutar telefonia,

sentado no meu banquinho;

quem me dera, todo o dia,

 bater sola no seixinho.

 

Falar com os meus clientes,

ouvir as suas misérias;

atender os impacientes,

sem descanso, sem ter férias.

 

Curtir com as raparigas,

beijos mil, às escondidas;

brancas e loiras espigas,

ao sol na eira estendidas.

 

Sujar as mãos nessas botas,

 que do “monte” me chegavam;

alinhadas, como tropas,

nos negros pregos ficavam.

 

Ai quem me dera, me dera,

voltar a ser novo, novo;

voltar a ser o que era,

 ser do povo, só do povo.

 

UM POETA É

 

Um poeta é um criador de reinos

imaginários, sem originalidade.

O poema é a sua casa.

Através das janelas do poema

ele avista o mundo – não o seu!

E o que vê não lhe agrada.

A sua matéria-prima são os

impulsos primários e prima

pela ausência da vontade imposta.

O reino que cria, verdadeira terra

de ninguém, embora povoada,

serve-lhe de abrigo e de desculpa.

O poeta é sempre um ser culpado!

Não o reconhecer – é doloroso.

E bate com as palavras contra as

paredes graníticas do silêncio

absoluto – esmaga-as sem piedade!

Depois chora, ri e pragueja – pieguice!

Não, o mundo não é bem o seu lugar:

o poema… sim.

O poeta tem a noção da sua timidez,

da sua falta de jeito para o quotidiano.

Ele é um fugitivo, nunca um perseguido!




Comentários

  1. Bichinho gato, que comes tu?
    - Sopinhas de leite.
    - Guardaste-me delas?
    - Guardei, guardei.
    - Onde as puseste?
    - Atrás da arca.
    - Com que as tapaste?
    - Com o rabo da gata.
    Sape, sape, sape gato
    Sape, sape, sape gata.

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