QUADRAS AO DEUS DARÁ

Por Joaquim A. Rocha




22

 

Se a fama me bater à porta,

Não sei se a irei aceitar;

Que importa a fama que importa,

Se minha paz vem roubar.

 

23

 

Sou, como sabes, pacífico,

Detesto a violência;

Mas se bates não me fico,

Perco logo a paciência.

 

24

 

Flor do meu culto jardim,

Dentre todas a mais formosa;

Conserva-te sempre assim,

Não és cravo, tu és rosa.

 

25

 

Estrela lá tão distante,

Por mim pressurosa chamas;

És fascínio, diamante,

Luz em meu peito derramas.

 

26

 

Entro na noite cansado,

Louco de tanto pensar;

O espírito torturado,

O sono a aguardar.

 

27

 

Penetro, como na terra o arado,

Rasgo fundo esse tecido sombrio;

E no corpo da noite, vate inspirado,

Tudo me esquece: sono e frio.

 

28

 

Os buracos em Lisboa

Existem por toda a parte;

Em Alfama, Madragoa,

São embrião de nova arte.

 

29

 

Tenho cara de mártir: não sou.

Bem pouco sofri até agora.

E se algo em mim implora,

É a solidão que só restou.

 

30

 

A katota da bajuda

É fresca como um limão;

Como a pera carnuda,

Tão bela como um pavão.


31

 

Nesta quadra festiva

Gasto todo o meu dinheiro;

Depois lá vou prà estiva

Trabalhar o ano inteiro.



// continua...




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