SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha 



// continuação...


A MANTA

 

O pobre velho, amparado pelo filho,

Caminhava rumo à feroz montanha;

Com passo de formiga, velha aranha,

Percorre, com temor, o gasto trilho.

 

Nos seus olhos bailava estranho brilho,

Seu peito ardia em incontida sanha;

E, de repente, os dentes arreganha,

Com violência destrói o espartilho.

 

Vira-se para quem a vida dera,

Como numa salomónica sentença:

- «Toma isto, vais um dia precisar.

 

Também acabará a primavera

Pra ti e para os teus.» E sem detença

A manta em duas partes vai rasgar.

 

 

 

     Este soneto tem por base uma lenda. Dizia-se que antigamente, num determinado país, os filhos levavam os pais velhos para a montanha para ali morrerem. Ficavam embrulhados numa manta, a fim de suportarem o frio durante alguns dias. Este idoso deu ao filho metade da manta, pois receava que quando chegasse a vez dele subir à montanha não houvesse nenhuma para o aquecer nos derradeiros momentos da sua vida. Também consta que o filho, arrependido, colocou o pai às costas e levou-o para casa.

                                                 // continua...

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