OS MEUS SONETOS E OS DO FRADE


Por Joaquim A. Rocha 




// continuação...


A CAMINHO DA GUERRA

 

 

Naquele triste vinte de Janeiro,

Com correntes fortes, amordaçado,

Cabisbaixo, o peito destroçado,

Parte sofrendo o fraco guerrilheiro.

 

Manhã fria, manhã de nevoeiro,

Desenha a silhueta do soldado:

Estatura média, adelgaçado,

Um andar pacato, olhar ordeiro.

 

Sobe, a chorar, os degraus do paquete,

Do bolso das calças um branco lenço

Agita num gesto de despedida;

 

Com a mão esquerda brande o barrete.

Depois, já no navio, perde o senso…

Cai sobre a intransponível bastida!

 


MORTE NA SELVA


 

Surgiu quase como uma aparição,

Trazendo na cabeça grande pote,

Entre os dentes cerrados um chicote,

No peito magro, forte maldição.

 

Dirige-se, com raiva, ao capitão,

Com voz rouca, vinda da glote,

Num desafio bravo, grave mote:

«Deixai minha terra, sagrado chão

 

O oficial, surpreso e furibundo,

Não querendo crer naquilo que ouvia,

Afasta com vigor o corpo imundo.

 

Ali perto cantou a cotovia…

O negro ser despediu-se do mundo,

Em África findava mais um dia!

// continua...





NOTA: hoje, dia 4/2/2021, faz sessenta anos que começou a guerra colonial. Nesse maldito conflito morreram e ficaram feridos imensos soldados portugueses e africanos. Para quê? O principal culpado, Salazar, faleceu de velho, na sua cama. 

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