OS NOVOS LUSÍADAS (...)
Por Joaquim A. Rocha
// continuação...
31
Vai
causar assombro, admiração,
Esta
esfarrapada epopeia;
Nasceu
dum sonho, duma ilusão,
De
uma estranhíssima ideia…
Pelo
feito não vos peço perdão,
Os
sonhos não se prendem na cadeia.
Podem não valer dez réis estes versos,
Mas
são puros, altivos, não perversos.
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Peço-vos,
não façam comparações:
Virgílio
escreveu a «Eneida»,
«Os
Lusíadas» são obra de Camões;
«Os Gatos» são de Fialho d’Almeida,
Omitindo
mil outras criações
Inspiradas
por Tétis a “Nereida”…
Lembro-vos
só a «Divina Comédia»,
O
Dante a brincar com a tragédia.
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«Ilíada»,
«Odisseia», de Homero,
São
monumentos da literatura;
Eu,
na minha escrita me esmero,
Mas
germina sempre seca e dura…
Melhorar
minha obra eu bem quero,
Mas
o que nasce torto não tem cura.
Não
lhe chamem a isto epopeia,
Pois
não nasceu de Crono e de Reia.
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Um
poema será (assim o creio)…
Mal
cozinhado, chocho, sem tempero;
Prédio
sem beleza, sem esteio,
Causando
no leitor o desespero…
Talvez
o rasgue, o corte a meio,
O
reduza a nada, simples zero.
Vai
transformar-se em ruim exemplo,
Numa
ruína de estranho templo.
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E
vós, pessoas das outras nações,
Entendei
bem aquilo que vos digo:
Tudo
que eu faço vale só tostões,
O
crédito de um pobre mendigo…
Não
sonhem, não tenham ilusões,
Não
tomem o cego por testigo.
Eu
bem quis fazer estrofes perfeitas,
Mas
nasceram, coitadas, com maleitas.
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Portugal
é uma grande varanda
Donde
se avista o mundo inteiro;
Nesta
república o povo manda,
Seja
diretor, humilde barbeiro…
Evita-se
a luta, a demanda,
Pois
a paz ocupa lugar cimeiro.
Nascemos
na península ibérica,
Longe
de África, Ásia, América...
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Temos
a nossa própria cultura,
Por
cá há bons e maus temperamentos;
Nossos
olhos têm laivos de ternura,
Nos
corações ainda há tormentos…
Na
aldeia inda se vê ferradura
Pra
evitar ímpios pensamentos.
Nalguns
lares reina superstição,
Felizmente
em vias de extinção.
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Antigos
celtas, que por cá andaram,
Trouxeram-nos
patranhas, mitos, lendas;
Gregos
e cartagineses lutaram,
Destruindo
as casas e fazendas…
Os
bravos romanos civilizaram,
Deram-nos
a língua e mais prendas.
Viriato
legou-nos sua coragem,
Só
foi derrotado por sacanagem.
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Fenícios,
hábeis comerciantes,
Vendiam
louça de vidro, tecidos…
Tinham
fama de ótimos navegantes,
Usavam
cor púrpura nos vestidos…
Dos
deuses e deusas eram amantes,
Nas
conversas eram muito sabidos.
Melcarte
era seu deus de eleição,
Cuidava
da urbe, navegação…
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Os
vândalos, suevos e alanos,
Vindos
da Ásia e Europa do norte,
Fizeram
muita guerra aos romanos,
Eram
cruéis, não temiam a morte.
Estiveram
na península anos,
Mas
terminou o seu tempo de sorte.
Seguidamente
vêm os visigodos,
Comandados
por chefe de bons modos.
// continua...
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