OS NOVOS LUSÍADAS (...)

Por Joaquim A. Rocha




 // continuação...

31

 

Vai causar assombro, admiração,

Esta esfarrapada epopeia;

Nasceu dum sonho, duma ilusão,

De uma estranhíssima ideia…

Pelo feito não vos peço perdão,

Os sonhos não se prendem na cadeia.

    Podem não valer dez réis estes versos,

Mas são puros, altivos, não perversos.

 

32

 

Peço-vos, não façam comparações:  

Virgílio escreveu a «Eneida»,

«Os Lusíadas» são obra de Camões;

 «Os Gatos» são de Fialho d’Almeida,

Omitindo mil outras criações

Inspiradas por Tétis a “Nereida”…

Lembro-vos só a «Divina Comédia»,

O Dante a brincar com a tragédia.

 

33

 

«Ilíada», «Odisseia», de Homero,

São monumentos da literatura;

Eu, na minha escrita me esmero,

Mas germina sempre seca e dura…

Melhorar minha obra eu bem quero,

Mas o que nasce torto não tem cura.

Não lhe chamem a isto epopeia,

Pois não nasceu de Crono e de Reia.

 

34

 

Um poema será (assim o creio)…

Mal cozinhado, chocho, sem tempero;

Prédio sem beleza, sem esteio,

Causando no leitor o desespero…

Talvez o rasgue, o corte a meio,

O reduza a nada, simples zero.

Vai transformar-se em ruim exemplo,

Numa ruína de estranho templo.

 

35

 

E vós, pessoas das outras nações,

Entendei bem aquilo que vos digo:

Tudo que eu faço vale só tostões,

O crédito de um pobre mendigo…

Não sonhem, não tenham ilusões,

Não tomem o cego por testigo.

Eu bem quis fazer estrofes perfeitas,

Mas nasceram, coitadas, com maleitas.


36

 

Portugal é uma grande varanda

Donde se avista o mundo inteiro;

Nesta república o povo manda,

Seja diretor, humilde barbeiro…

Evita-se a luta, a demanda,

Pois a paz ocupa lugar cimeiro.

Nascemos na península ibérica,

Longe de África, Ásia, América...

 

37

 

Temos a nossa própria cultura,

Por cá há bons e maus temperamentos;

Nossos olhos têm laivos de ternura,

Nos corações ainda há tormentos…

Na aldeia inda se vê ferradura

Pra evitar ímpios pensamentos.

Nalguns lares reina superstição,

Felizmente em vias de extinção.

 

38

 

Antigos celtas, que por cá andaram,

Trouxeram-nos patranhas, mitos, lendas;

Gregos e cartagineses lutaram,

Destruindo as casas e fazendas…

Os bravos romanos civilizaram,

Deram-nos a língua e mais prendas.

Viriato legou-nos sua coragem,

Só foi derrotado por sacanagem.


39

 

Fenícios, hábeis comerciantes,

Vendiam louça de vidro, tecidos…

Tinham fama de ótimos navegantes,

Usavam cor púrpura nos vestidos…

Dos deuses e deusas eram amantes,

Nas conversas eram muito sabidos.

Melcarte era seu deus de eleição,

Cuidava da urbe, navegação…

 

40

 

Os vândalos, suevos e alanos,

Vindos da Ásia e Europa do norte,

Fizeram muita guerra aos romanos,

Eram cruéis, não temiam a morte. 

Estiveram na península anos,

Mas terminou o seu tempo de sorte.  

Seguidamente vêm os visigodos,

Comandados por chefe de bons modos.

// continua...


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